Clovis Rossi

A mãe (ou pai) de todas as corrupções

Por: | 13 de abril de 2012



Faz sete anos uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi batizada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "CPI do Fim do Mundo". Criada para investigar as casas de jogo de bingo e suas relações com políticos, acabou investiigando tudo, menos os bingos, e, como de praxe, não produziu resultados apreciáveis.
Pois bem: um dos personagens dessa investigação, um certo Carlinhos Cachoeira (o da foto acima), reaparece agora no noticiário, dando ele próprio título a uma CPI que, esta sim, tende a ser, se pudesse ser levada a sério, a do fim do mundo. 
Cachoeira é um desses personagens clássicos no mundo da baixa política: usa seus contatos com próceres políticos para fazer negócios, em geral ilícitos. Sua primeira aparição no noticiário se deu por ligações com Waldomiro Diniz, então assessor de José Dirceu, o chefe da Casa Civil do governo Lula e o segundo homem do PT, após o próprio Lula.
Agora, aparece por conta de vínculos com figuras relevantes de dois outros partidos, ambos de oposição ao PT de Lula, o senador Demóstenes Torres, que deixou o DEM (Democratas, ex-Partido da Frente Liberal, direitista) exatamente por causa do escândalo, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. Ou seja, Cachoeira transitou alegremente pelos três partidos que governaram o Brasil nos últimos 17 anos (o DEM, então PFL, estava coligado com o PSDB nos dois períodos de Fernando Henrique Cardoso).
A colunista Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, desconfia que há mais partidos na extensa teia de Cachoeira. Escreveu na quinta-feira: "Os tentáculos de Cachoeira, conhecidos apenas em parte, atingem petistas, tucanos, democratas e outros menos cotado, mas curiosamente até aqui não chegaram ao PMDB, partido imenso, com ramificações em todos os Estado e enormes bancadas congressuais - e que não chega a ser um santuário" (ah, santa ironia).



É natural, portanto, que se tenha criado um ambiente de, digamos, fim de mundo, do que dão prova três pequenas notas publicadas na coluna de Mônica Bergamo ("Folha de S. Paulo"), uma das mais bem informadas do Brasil:

Nota 1 - Quem ouviu as conversas de Lula com petistas para a criação da CPI de Cachoeira, diz que ele está com "sangue nos olhos". O ex-presidente diz acreditar que ela pode esclarecer como surgiram não apenas o mensalão [o maior escândalo da gestão Lula], mas vários outros escândalos de seu governo que teriam como origem arapongagens [escutas clandestinas] do grupo do contraventor [Cachoeira].
Nota 2 - O eventual envolvimento de petistas com Cachoeira seria um efeiito colateral suportável, tem dito Lula, diante dos benefícios de uma CPI.
Nota 3 - O senador Demóstenes Torres disse anteontem em conversa com interlocutores com quem tem se aconselhado que não cai sozinho no escândalo de Carlinhos Cachoeira. Calcula que tombem, como ele, pelo menos dez outros deputados federais, de PSDB, PMDB e PT, por envolvimento com o contraventor.

Por tudo isso, boa parte dos analistas políticos acredita que a CPI terminará em pizza, como se diz no Brasil quando se quer afirmar que alguma coisa não produziu resultado algum.
Desde já, de qualquer modo, é triste verificar que todos os movimentos, de todos os partidos, em torno do caso Cachoeira, se dão com o único propósito de atingir o outro, jamais o de promover uma limpeza verdadeira na vida pública.

De lavagem cerebral a boa ideia

Por: | 11 de abril de 2012


Houve um tempo, um longo tempo, em que boa parte da esquerda brasileira olhava com desconfiança quem estudasse no exterior, especialmente nos Estados Unidos.A sensação nunca claramente explicitada, apenas insinuada, era a de que o "império", como era chamado o portentoso vizinho ao Norte, promovia uma lavagem cerebral e devolvia os estudantes, mesmo os de pós-graduação, como títeres da ideologia predominante por lá.É significativo que a presidente Dilma Rousseff, nascida politicamente na ala mais radical do combate à ditadura e, por extensão, ao capitalismo tenha arquivado completamente essa mentalidade tola e mergulhado no seu exato oposto: o programa mais acariciado pela presidente chama-se "Ciência sem Fronteiras" e tem como objetivo colocar 100 mil estudantes/pesquisadores brasileiros em universidades do exterior. E os Estados Unidos são naturalmente um alvo chave, como a presidente deixou claro na visita que acaba de concluir a Washington e à duas grifes da academia norte-americana, o MIT e Harvard.Julia Sweig, diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, participou de parte das exposições de Dilma e relata assim o que a presidente disse:
"Ela explicou o desafio brasileiro a audiências americanas em Washington, Boston e Cambridge: criar condições para que as classes médias novas e emergentes se tornem produtivas em ramos de valor agregado, dependentes de capital humano bem treinado e educado. Conectar os brasileiros às instituições de pesquisa e educação americanas é essencial para o investimento em capital humano".
Comentário da própria Julia: "Expor os brasileiros à cultura americana de inovação e criatividade também é um componente importante da tarefa, como ela disse. E talvez mais difícil. Será que é possível engarrafar essas qualidades que Dilma cita com tamanha admiração? E será que somos os únicos que as temos e podemos exportar?"
Não se preocupe, Julia, os Estados Unidos não são o único centro de excelência que o programa "Ciência sem Fronteiras" pretende explorar. Na visita à Índia, imediatamente antes de viajar a Washington, Dilma também tratara do assunto com autoridades governamentais e universitárias.



A Índia, como se sabe, é um centro importante de TI (Tecnologia da Informação) e é nessa área que o Brasil pretende que seus estudantes/pesquisadores façam seus estágios.Por enquanto, o programa é incipiente: passados nove meses de seu lançamento, apenas 3% das 100 mil bolsas que são a meta foram implementadas. Outras 11% estão em fase de implementação.
E doutorandos e pesquisadores ainda não foram devidamente convocados porque 80% das 10.979 bolsas em fase de implementação são chamadas de graduação-sanduíche (quando o estudante universitário passa um ano ou seis meses fora do país), de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

De todo modo, o programa revela que o Brasil perdeu o medo de encarar o mundo externo, o que é ótimo.
Mas é preciso ter claro que não serão 100 mil ou 200 mil graduandos ou doutores ou pesquisadores que conseguirão mudar o pobre panorama do ensino universitário e da pesquisa no Brasil. O mundo externo é apenas um complemento - útil, excelente - à lição de casa, que precisa ser feita no próprio país.
Mas é saudável que Dilma tenha todo o carinho que vem demonstrando pela inovação e pela agregação de valor ao capital humano brasileiro.

Quando a mão certa é a contramão

Por: | 05 de abril de 2012



O ministro Guido Mantega, o presidente da Câmara Marco Maia e Dilma. A presidente Dilma Rousseff anunciou na terça-feira um conjunto de medidas para estimular a economia. Houve muitas críticas, algumas delas até eventualmente corretas do ponto de vista técnico. Mas a única acusação que seria injusta é a da falta de coerência.Explico: a presidente tem sistematicamente lamentado o tratamento que a Europa está dando à crise, adotando apenas medidas de ajuste, sem se preocupar com o essencial que é o crescimento econômico. Logo, para ser coerente, Dilma não poderia ficar de braços cruzados, assistindo passivamente a desaceleração da economia brasileira.É óbvio que o problema no Brasil não tem um décimo da gravidade alcançada na Europa ou mesmo nos Estados Unido. Os países europeus ou estão estagnados ou em recessão, ao passo que o Brasil continua crescendo, embora menos do que no luminoso ano de 2010, em que o crescimento superou os 7% - e, diga-se, foi um dos fatores que ajudou a eleger Dilma naquele ano.Além disso, enquanto o desemprego aumenta ou se mantém muito elevado na Europa, no Brasil há quase, quase, o pleno emprego.

Mesmo assim, a presidente está fazendo uma aposta no aumento do investimento, tanto público como privado, única maneira de assegurar um crescimento sustentável no futuro próximo.A intenção do governo é levar a taxa de investimento dos atuais 19% do PIB para algo próximo de 25%, se possível em seu período de governo, que vai até 2014.Como o PIB brasileiro é de cerca de US$ 2,5 trilhões, o programa anunciado significará um esforço para investir algo em torno de US$ 150 bilhões, em prazo que a presidente não especificou.É um número significativo para uma economia ainda emergente.Outra intenção da presidente coincide com a grande queixa do empresariado e dos mortais comuns: reformar o sistema tributário, uma enorme confusão, além de representar uma carga considerada excessiva.Do meu ponto de vista, não é que a carga seja de fato excessiva. O problema é que os serviços públicos entregues como contrapartida dos tributos é que são ruins ou ausentes."Tenho plena consciência de que o Brasil precisa reduzir sua carga tributária", disse a presidente, em uma entrevista na Índia, na qual antecipou partes do programa anunciado na terça-feira.Mas a reforma tributária será lenta e pontual porque, segundo ela, só no futuro, “talvez seja possível encaminhar uma reforma global”, em vista “dos vários interesses envolvidos na questão”. Citou como o principal deles a distribuição da arrecadação entre União, Estados e municípios". Por isso, Dilma defende uma discussão “calma, tranquila e realista”, enquanto toma “medidas pontuais que, no conjunto, permitem que se crie uma desoneração maior, o que é fundamental para o país crescer”.Outro aspecto em que a presidente trafega na contramão do rigor fiscal europeu é na sua análise dos gastos do governo, duramente decepados na Europa.No Brasil, diz Dilma, gastos de consumo do governo, que obviamente não são investimento, terão que aumentar em alguns setores, “principalmente quando se trata da saúde e da educação”.Para Dilma, é preciso, por exemplo, ampliar o número de médicos, porque o Brasil tem uma das menores taxas de médicos por habitante (1,8 para cada mil brasileiros).A presidente diz que “a população reclama de duas coisas, falta de médicos e, portanto, de falta de atendimento. Não é investimento, mas vamos ter que gastar e ao mesmo tempo aumentar a taxa de investimento”.Imagino que esse bom senso, pelo menos do meu ponto de vista, esteja por trás da popularidade de Dilma: a mais recente pesquisa lhe dá 77% de aprovação, quatro pontos acima do nível atingido no mesmo período de 2011. É um resultado igual ao melhor momento de Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente campeão de popularidade de todos os tempos.O problema é que o governo Dilma tem aprovação bem menor (56%) do que a da pessoa Dilma.Dá para traduzir assim: o que a presidente pretende e/ou diz merece mais aplausos do que o seu governo é efetivamente capaz de realizar.

Cuando el carril correcto es el carril contrario

Por: | 05 de abril de 2012

Pie de foto: El ministro de Hacienda, Guido Mantega, el presidente del Congreso de los Diputados, Marco Maia, y Dilma.

La presidenta Dilma Rousseff anunció el martes un conjunto de medidas para estimular la economía. Recibió muchas críticas, algunas de ellas eventualmente correctas, desde el punto de vista técnico. La única acusación injusta sería decir que hubo falta de coherencia. Explico: la presidenta lamenta sistemáticamente cómo Europa está lidiando con la crisis, adoptando medidas de ajuste sin preocuparse con el crecimiento económico, lo esencial, desde su punto de vista. Por lo tanto, para ser coherente, Dilma no puede cruzar los brazos mientras ve pasivamente la economía brasileña desacelerar. Obviamente, el problema en Brasil no es ni la décima parte de la gravedad alcanzada en la situación europea o incluso en EE UU. Los países europeos están estancados o en recesión,mientras Brasil sigue creciendo. Aunque menos que en 2010, cuando el crecimiento superó los 7% y fue uno de los factores que ayudó a Dilma a ser elegida aquél año. Además, mientras el paro aumenta o sigue muy elevado en Europa, en Brasil hay casi el pleno empleo.

Aún así, la presidenta apuesta por el aumento de la inversión pública y privada, la única manera de asegurar un crecimiento sostenible en un futuro próximo. Si posible, la intención del gobierno es aumentar la tasa de inversión de los 19% actuales al 25% del PIB hasta 2014. El PIB brasileño es de aproximadamente 2,5 trillones de dólares, lo que significa que el programa anuncia un esfuerzo para invertir alrededor de 150 billones de dólares, en un plazo todavía no especificado por la presidenta.

Es un número significativo para una economía todavía emergente. Una de las quejas más comunes del empresariado y de los ciudadanos coincide con una de las intenciones de la presidenta: reformar el sistema tributario, que es una enorme confusión, además de una carga excesiva. Desde mi punto de vista, no considero que la carga sea de hecho excesiva. El problema es que los servicios públicos por los que el ciudadano paga, a través de sus impuestos, son malos o inexistentes.

“Tengo plena conciencia que Brasil necesita reducir su carga tributaria”, dice la presidenta durante una entrevista en India, en la que anticipó algunas partes del programa anunciado el martes. Pero la reforma tributaria será lenta y puntual porque solamente en el futuro “será posible encaminar una reforma global” en vista de “los varios intereses implicados en esta cuestión”. Uno de los principales intereses es “la distribución de lo que se recauda en impuestos entre el gobierno federal, Estados y municipios”. Por esto Dilma defiende una discusión “calma, tranquila y realista” mientras toma “medidas puntuales que en el conjunto permiten una mayor exención, fundamental para que el país crezca”.

La presidenta también conduce por el carril contrario respecto al rigor fiscal europeo, cuando analiza los gastos de gobierno, duramente recortados en Europa. Según Dilma, los gastos del gobierno brasileño, que obviamente no son una inversión, tendrán que aumentar en algunos sectores como el de la salud y de la educación. Para Dilma es necesario ampliar el número de médicos porque Brasil tiene una de las menores tasas de médicos por habitante (1,8 para cada mil brasileños). La presidenta dice que “la población se queja de dos cosas: falta de médicos y falta de atención sanitaria. No es una inversión, pero tendremos que gastar y a la vez aumentar la tasa de inversión”. Imagino que este sentido común esté por detrás de la popularidad de Dilma. La última encuesta le da un 77% de aprobación, cuatro puntos por encima del mismo periodo en 2011.

Es un resultado igual al del mejor momento de Luiz Inácio Lula da Silva, supuestamente campeón de popularidad de todos los tiempos. El problema es que el gobierno de Dilma tiene una aprobación del 56%, bastante menor que la aprobación de su personalidad. Se puede traducir así: lo que la presidenta pretende o dice merece más ovación que su propio gobierno es capaz de realizar.

Traducción: Beatriz Borges

O torneio da morte

Por: | 03 de abril de 2012


A antiga rivalidade entre São Paulo e Rio de Janeiro manifesta-se até em um triste torneio: qual é a mais violenta entre as duas?Na sua edição desta terça-feira, o jornal "Folha de S. Paulo" puxou o assunto para seu principal título de capa e perguntou: "Qual Estado é mais violento, Rio ou São Paulo?"A resposta: há mais homicídios no Rio e mais roubos em São Paulo. Logo, um empate, triste empate.Na verdade, a resposta mais correta é que ambos os Estados/cidades estão perdendo. Afinal, a porcentagem de homícidios e de roubos em ambos os Estados é imensamente superior aos padrões internacionais mais civilizados.Em São Paulo, foram registrados 755 roubos para cada grupo de 100 mil habitantes no ano passado. Em território fluminense, foram 660, no mesmo período. Para efeito de comparação, os EUA registraram 533 roubos por 100 mil habitantes em 2009 -último dado disponível.O fato de haver mais homicídios no Rio que em São Paulo não é um consolo para os paulistas. Como dizem especialistas ouvidos pelo jornal, o que cria ou aumenta a sensação de insegurança é a percepção de que você pode ser roubado a qualquer momento - uma percepção que as estatísticas demonstram ser real e não paranoia.Da mesma forma, não faz nem paulistas nem cariocas sentirem-se seguros o fato de que tanto homicídios como roubos estarem diminuindo ano a ano. O número continua tão elevado que ninguém, a rigor, está tranquilo.Afinal, um estudo do Instituto Sangari, de São Paulo, mostra que, em 1980, havia 11,7 assassinatos para cada 100 mil habitantes, porcentagem que pulou para de 20 nos útimos anos. Há quatro assassinatos por hora no conjunto do país.Os números brasileiros são comparáveis aos do México, um país em guerra contra o narcotráfico desde que o presidente Felipe Calderón assumiu, faz seis anos. No entanto, a mídia internacional fala muito mais da violência no México do que no Brasil. Por quê? Resposta do Instituto Sangari:"Na agenda do presidente Calderón, o tema [da violência] é central, mas, para os presidentes do Brasil, simplesmente não existe".


Torneo de la muerte

Por: | 03 de abril de 2012

La antigua rivalidad entre São Paulo y Rio de Janeiro se manifiesta en un triste torneo: ¿Cuál de las dos es la ciudad más violenta? En su edición de este martes, el periódico Folha de S. Paulo puso el tema en el titular de portada: Cuál Estado es más violento, ¿Rio o São Paulo? La respuesta: hay más homicidios en Rio y más robos en São Paulo. Un empate, triste empate. De hecho, la respuesta más correcta es que ambos los Estados/ciudades están perdiendo.

El porcentaje de homicidios y robos en ambos Estados es inmensamente superior a los padrones internacionales más civilizados. El año pasado, en São Paulo hubo 755 robos para cada grupo de 100 mil habitantes. Para comparar, en EE UU se registaron 533 robos por 100 mil habitantes en 2009, el último dato disponible. El hecho de que haya más homicidios en Rio que en São Paulo no es un consuelo para los paulistas*. Como dicen los especialistas entrevistados por el periódico, lo que crea o aumenta la sensación de inseguridad es la percepción de que puedes ser robado a cualquier momento. Una percepción que las estadísticas demuestran que es real y no una paranoia.

De la misma manera, ni paulistas ni cariocas** se sienten seguros porque los homicidios y robos estén disminuyendo año tras año. El número sigue tan elevado que nadie está tranquilo. Al final, un estudio del Instituto Sangari, de São Paulo, enseña que em 1980 había 11,7 asesinatos para cada 100 mil habitantes, um porcentaje que saltó a 20 los últimos años. Por ahora, hay cuatro asesinatos por día en el país. Los números brasileños se comparan a los de México, un país en guerra contra el narcotráfico desde que el presidente Felipe Calderón llegó al poder, seis años atrás. Sin embargo, los medios internacionales hablan más de la violencia de México que la de Brasil. ¿Por qué? Respuesta del Instituto Sangari: “En la agenda del presidente Calderón el tema de la violencia es central pero, para los presidentes de Brasil, simplemente no existe”.

* gentilicio de quien nace en cualquier ciudad del Estado de São Paulo

** gentilicio de quien nace en cualquier ciudad del Estado de Rio de Janeiro

Traducción: Beatriz Borges

Dilma, Obama e o Irã

Por: | 30 de marzo de 2012




Nas suas relações com os Estados Unidos, o Brasil pode tropeçar uma segunda vez em uma pedra chamada Irã. E em ambas tem razão.
O tropeço a caminho tem o seguinte formato: no dia 10, Dilma Rousseff vai aos Estados Unidos, para a sua primeira visita oficial ao parceiro (já esteve antes, mas para eventos das Nações Unidas).
Não obstante, teve a franqueza de, apenas duas semanas antes, criticar duramente a política de Washington para o Irã. Foi em conferência de imprensa para os jornalistas brasileiros que cobrimos a quarta cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Nova Déli.
"O Brasil acha extremamente perigosas as medidas de bloqueio de compras do Irã, apesar de não termos relações comerciais com o Irã", disparou Dilma (relações até existem mas são realmente inferiores a 1% das exportações brasileiras e menos ainda para a importação).
Os Estados Unidos, com apoio europeu, estão pressionando países que compram petróleo iraniano para que deixem de fazê-lo, o que equivaleria a cortar a linha da vida para o país dos aiatolás.
A Rússia até que pressionou para que o documento final dos BRICS denunciasse a pressão dos Estados Unidos, mas não funcionou. (Íntegra do texto).
Embora o Brasil não compre ou compre pouco, Dilma mostrou-se compreensiva com "outros países que precisam dessas compras". Não mencionou nomes, mas é óbvio que estava se referindo a dois dos BRICS: China, que importa do Irã 22% de suas necessidades de petróleo, e Índia, que supre 13% de seu consumo com o óleo iraniano.
A ênfase do texto ficou na necessidade de evitar que a situação relativa ao Irã "escale em direção a um conflito". Preocupação idêntica à que Dilma expressaria na sua conferência de imprensa: "Que as partes baixem o nível da retórica e se entendam", cobrou.
Tanto no comunicado como na fala da presidente, a alusão é às reiteradas insinuações de Israel de que é necessário atacar o Irã antes de que seu programa nuclear atinja um ponto em que a obtenção da bomba atômica seja irreversível. É também alusão à frase do presidente Barack Obama segundo a qual "todas as opções estão sobre a mesa" no contencioso iraniano.
"Todas as opções" significa incluir a opção militar, como é óbvio.
Por que digo que Dilma está certa em tropeçar na pedra Irã? Porque, diz ela, impor sanções [ao Irã ou a qualquer país] só vale se for "no âmbito das Nações Unidas e do direito internacional", e não por "decisões de países".
Tradução: parte das sanções ao Irã foi de fato adotada no âmbito das Nações Unidas, sem que a Rússia e a China vetassem, embora tenham tal poder. Mas, depois, Estados Unidos e União Europeia ampliaram a lista de punições, além de pressionarem outros países a não comprar o petróleo iraniano.
É óbvio que respeitar a legalidade internacional é condição sine qua non para aceitar ações de qualquer natureza, principalmente militares, contra qualquer país.
Dilma cobra ainda que, "em vez da retórica agressiva, se reconheça o direito dos países de usar a energia nuclear para fins pacíficos, assim como nós o fazemos".
Os Estados Unidos e a Europa não negam esse direito iraniano, mas não acreditam que o programa nuclear tenha apenas finalidades pacíficas.
O comunicado dos Brics também reitera esse direito, mas introduz uma nuance que Dilma não fez: que o direito iraniano seja "consistente com suas obrigações internacionais". Tradução: o Irã precisa cooperar com a Agência Internacional de Energia permitindo inspeções que eliminem toda e qualquer dúvida sobre o caráter do programa.
Passo então à primeira pedra em que o Brasil tropeçou em suas relações com o Irã e com os EUA. Em 2009, Barack Obama e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontraram-se às margens de uma reunião do G8+5, em L'Aquila (Itália).


Depois do encontro, o porta-voz de Obama, então Robert Gibbs me disse que, entre outros assuntos, haviam conversado sobre o Irã. Obama sugeriu a Lula, que estava para receber o presidente Ahmedinejad em Brasília, que insistisse na necessidade de o Irã limitar seu programa nuclear a usos pacíficos.
O presidente norte-americano teria até sugerido que Lula jogasse na conversa o exemplo brasileiro, cuja Constituição impõe o limite proposto para o Irã.
Um ano depois, Lula devolveu a visita a Ahmedinejad, mas, antes, recebeu carta de Obama em que este listava os pontos essenciais para um acordo com o Irã, que estava sendo negociado pelo Brasil e pela Turquia.
O acordo foi fechado praticamente nos termos desejados pelos norte-americanos. Inclusive - e principalmente - no ponto em que previa a entrega de 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido para a Rússia ou a França para enriquecimento a um nível que só serve mesmo para finalidades pacíficas (médicas).
Essa quantidade era considerada "fundamental" na carta de Obama.
Apareceu no acordo, mas, assim mesmo, foi descartado pelos Estados Unidos, que preferiram propor sanções ao Conselho de Segurança, afinal aprovadas, até com apoio de China e Rússia, que deixaram seu parceiro dos BRICS falando sozinho.
O que mudou entre as conversas Obama/Lula e a carta do norte-americano, só Washington pode explicar, mas minha impressão é a de que os Estados Unidos trocaram o "engajamento" a que Obama se propôs logo após a posse pelo confronto. E não avisaram Lula.
Hoje, está claro que não se avançou absolutamente nada nem no confronto nem na negociação. Fica, pois, a pergunta que não terá resposta: o mundo não estaria melhor se se tivesse, à época,
dado uma chance para o acordo Brasil/Turquia/Irã prosperar?
  

Dilma, Obama e Irán

Por: | 30 de marzo de 2012

En sus relaciones con EE UU, Brasil puede tropezar una segunda vez en una piedra llamada Irán. Y en ambas tiene razón.

El tropiezo que está por venir tiene este formato: día 10, Dilma Rousseff irá a los Estados Unidos para su primera visita oficial (ya estuvo antes, pero en eventos de la ONU). Pese a ello, tuvo la sinceridad de criticar duramente la política de Washington respecto a Irán. Y lo hizo dos semanas antes, en Nueva Dehli, durante la rueda de prensa para los periodistas brasileños que estábamos cubriendo la cuarta cúpula de los BRICS (Brasil, Rusia, Índia, China y Sudáfrica).

"Para Brasil, las medidas de bloqueo de compras a Irán parecen extremamente peligrosas, aunque no tengamos relaciones comerciales con este país", disparó Dilma (relaciones existen, pero son inferiores al 1% de las exportaciones brasileñas y aún menos para la importación).

Con el apoyo europeo, Estados Unidos está presionando los países que compran petroleo iraní para que dejen de hacerlo, lo equivalente a cortar la línea de vida del país de los aiatolás.

Rusia presionó para que el documento final de los BRICS denunciara la presión de EE UU, pero no funcionó.

Aunque Brasil no compre, o compre poco, Dilma se mostró comprensiva con "otros países que necesitan comprarlo". No mencionó nombres, pero es obvio que se refería a dos de los BRICS: China, que importa de Irán lo equivalente al 22% de sus necesidades, e India, que compra del país 13% del petroleo que consume.

El texto enfatizó que es necesario evitar que la situación respecto a Irán "crezca en dirección a un conflicto". Preocupación idéntica a la que Dilma expresaría en su rueda de prensa: "Que las partes bajen el nivel de retórica y se entiendan".

Tanto el comunicado como el discurso de la presidenta hacen alusión a las repetidas insinuaciones de Israel, que dice que es necesario atacar a Irán antes que su programa nuclear para el desarrollo de la bomba atómica alcance un punto irreversible. También hace alusión a la frase del presidente Barack Obama sobre el contencioso iraní: "todas las opciones están sobre la mesa".

"Todas las opciones" significa incluir una opción militar, obviamente.

Y ¿por qué digo que Dilma está cierta en tropezar con la piedra-Irán? Porque, según ella, imponer sanciones, a Irán o a cualquier país, solo vale si es "en el ámbito de la ONU y del derecho internacional" y no por "decisiones de países".

Traducción: parte de las sanciones a Irán fueron establecidas en el ámbito de la ONU, sin que Rusia y China lo vetaran, aunque tuviesen el poder para hacerlo. Pero después, EE UU y Unión Europea ampliaron el listado de castigos y, además, presionaron a otros países para que no comprasen petroleo iraní.

Obviamente, respetar la legalidad internacional es una condición sine qua non para aceptar acciones militares o de cualquier naturaleza contra cualquier país.

Dilma exige aún que "en lugar de la retorica agresiva, hay que reconocer el derecho de los países de utilizar la energía nuclear para fines pacíficos, así como hacemos nosotros".

EE UU y Europa no denegan este derecho iraní, pero no creen que su programa nuclear tenga solamente fines pacíficos.

El comunidado de los BRICS también reiteran este derecho, pero introduce un matiz que Dilma no dijo: que el derecho iraní sea "consistente respecto a sus obligaciones internacionales". Traducción: Irán necesita cooperar con la Agencia Internacional de Energía y permitir inspecciones que eliminen cualquier duda sobre el carácter del programa.

Dicho esto, paso al primer tropiezo de Brasil con Irán y EE UU. En 2009, Barack Obama y el entonces presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se encontraron fuera de la reunión del G8+5, en L'Aquila, Italia. Después del encuentro, Robert Gibbs, el portavoz de Obama, dijo que habían hablado sobre Irán, entre otros asuntos. Obama sugirió a Lula que insistiese que Irán limitara su programa nuclear a usos pacíficos. En aquél momento, Lula estaba a punto de recibir el presidente Ahmedinejad en Brasilia.

El presidente estadounidense habría sugerido que durante el encuentro, Lula podría utilizar el ejemplo brasileño (donde la Constitución impone el límite propuesto a Irán).

Un año después, Lula devolvió la visita a Ahmedinejad. Pero antes recibió una carta de Obama, en la que este ponía los puntos esenciales para un acuerdo con Irán, que Brasil y Turquía estaban negociando.

El acuerdo se hizo en los términos deseados por los estadounidenses. Principalmente en el punto que preveía la entrega de 1.200 kilos de uranio pobremente enriquecido para Rusia o Francia. Este componente químico, a estos niveles, solo sirve para finalidades pacíficas, o sea, médicas.

Fijar esta cantidad era "fundamental" en la carta de Obama.

Finalmente, esto apareció en el acuerdo y aún así, EE UU lo descartó. Preferieron proponer sanciones al Consejo de Seguridad, que fueron aprobadas con el apoyo de China y Rusia, que dejaron su compañero de los BRICS hablando solo.

Solo Washington puede explicar lo que cambió entre las conversaciones Obama/Lula y la carta del estadounidense. Pero tengo la impresión de que EE UU cambió la propuesta inicial del gobierno de Obama, es decir, el "compromiso" por el enfrentamiento. Y no avisaron a Lula.

Hoy está claro que no se avanzó absolutamente nada, ni en el enfrentamiento, ni en la negociación. Queda la pregunta que no tendrá respuesta: ¿El mundo no estaría mejor si se hubiese dado la oportunidad para que el acuerdo Brasil/Turquía/Irán prosperara?

Traducción: Beatriz Borges

O eterno candidato

Por: | 26 de marzo de 2012



Um dia de 2003, o jornalista Ricardo Kotscho, assessor de imprensa de Luiz Inácio Lula da Silva, perguntou ao chefe, que recém tomara posse como presidente da República: "Lula, o que você gostaria de ser se não fosse presidente?".
"Candidato", respondeu Lula, sem parar nem mesmo um segundo para pensar.
Desconfio que José Serra, ex-quase-tudo na política e na administração pública brasileiras, daria uma resposta inversa: preferiria ser presidente a ser candidato. Até porque seu amigo Fernando Henrique Cardoso chegou a brincar, durante a campanha eleitoral presidencial em que Serra foi derrotado por Lula (2002), que seu amigo Serra seria o melhor presidente mas era o pior candidato.
Serra, de fato, é um personagem atormentado, mas que as circunstâncias políticas e o desejo de ser presidente transformaram em eterno candidato. Já disputou - e ganhou - eleições para todos os cargos possíveis: prefeito de São Paulo, governador do Estado, deputado federal, senador.
Só não ganhou a Presidência.
No domingo, venceu mais uma eleição, a prévia para escolher o candidato de seu partido, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), para disputar a Prefeitura (outra vez), o terceiro maior orçamento da República, após o do governo federal e o do Estado de São Paulo.


É uma vitória com sabor amargo. Em tese, afasta Serra de seu sonho, que é a Presidência.
Afinal, renunciou uma vez à Prefeitura, para candidatar-se ao governo do Estado, apesar de ter assinado documento comprometendo-se a cumprir o mandato inteirinho. É cobrado até hoje pelos adversários, ainda mais que afirmou, faz pouco, que o que assinara era um "papelzinho" sem valor legal.
De fato, o papel foi proposto por Gilberto Dimenstein, jornalista da "Folha de S. Paulo" durante sabatina promovida pelo jornal. Não tem realmente valor legal, mas não deixa de ser moralmente recriminável rasgar um compromisso publicamente assumido.
Renunciar de novo à Prefeitura para candidatar-se à Presidência em 2014 seria um tremendo ônus, ainda mais que o partido já tem um pré-candidato praticamente lançado, o senador Aécio Neves.
Deixar um cargo eletivo para tentar pela terceira vez ser presidente não é algo que passe facilmente pelo partido. Ainda mais quando o cenário para 2014 indica que o principal adversário do candidato do PSDB será alguém que já derrotou Serra, ou Dilma Rousseff ou Luiz Inácio Lula da Silva.
O que significa dizer que a vitória de Serra nas prévias acaba sendo, indiretamente, o primeiro movimento no xadrez de 2014: tira um eterno candidato (Serra) para empurrar um novato, Aécio Neves, o primeiro nome com chances de chegar à Presidência que não fez carreira política no período da ditadura militar, ao contrário de Serra, Lula e Dilma.
Foi eleito deputado federal, pela primeira vez, em 1986, um ano depois do fim do regime militar.
Posto de outra forma: está havendo o início de uma troca de gerações na política brasileira, na qual tende a diminuir o espaço para eternos candidatos.

El eterno candidato

Por: | 26 de marzo de 2012

El asesor de prensa de Luiz Inácio Lula da Silva, el periodista Ricardo Kotscho, preguntó a su jefe un día de 2003: “Lula, ¿qué te gustaría ser si no fueras presidente?” “Candidato”, contestó el recién presidente de la República, sin parar ni un segundo para pensarlo.

Desconfío que José Serra, excasitodo en la política y en la administración pública brasileñas, daría una respuesta inversa: preferiría ser presidente a ser candidato. Su amigo y expresidente, Fernando Henrique Cardoso, bromeó que Serra sería el mejor presidente, pero era el peor candidato durante la campaña presidencial de 2002, en la que Lula ganó.

Serra es, de hecho, un personaje atormentado. Pero las circunstancias políticas y el deseo de ser presidente le trasformaron en un eterno candidato. Él ya disputó y ganó las elecciones para todos los cargos posibles: alcalde de São Paulo, gobernador del Estado de São Paulo, diputado federal y senador. Solo no ganó la presidencia. El domingo venció las primarias de su partido, el  Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB), para concurrir a la alcaldía nuevamente. La alcaldía es el tercer presupuesto de la República, después del gobierno federal y del Estado de São Paulo.

Es una vitoria que sabe amarga. En teoría, le aparta a Serra de su sueño, la presidencia. Al final, renunció a la alcaldía una vez para presentarse al gobierno del Estado de de São Paulo, pese a haber firmado un documento donde se comprometía a concluir la legislatura, de cuatro años. Sus adversarios hasta hoy lo cobran. Encima, hace poco declaró que lo que había firmado era un “papelito” sin valor legal.

De hecho, el papelito fue propuesto por Gilberto Dimenstein, periodista de Folha de S. Paulo, durante un debate promovido por el periódico. Realmente no tiene valor legal, pero no deja de ser moralmente reprochable romper un compromiso asumido públicamente.

Renunciar otra vez a la alcaldía para ser candidato a la presidencia en 2014 sería una tremenda responsabilidad. Además porque el partido ya tiene un precandidato, el senador Aécio Neves.

Dejar un puesto público para intentar por tercera vez ser presidente no es algo fácilmente aceptado por el partido. Principalmente cuando el escenario previsto para 2014 indica que el adversario del candidato del PSDB será alguien que ya le venció, sea Dilma Rousseff o Luiz Inácio Lula da Silva.

Lo que significa que la victoria de Serra en las primarias fue, indirectamente, el primer movimiento de ajedrez de 2014. Quitó Serra, el eterno candidato, para empujar al principiante, Aécio Neves. Neves es el primer nombre con posibilidades de llegar a la presidencia que no haya sido político durante la dictadura militar, lo contrario de Serra, Lula y Dilma.

Se eligió diputado federal por primera vez en 1986, un año después del final del régimen militar. Dicho de otro modo, empieza un cambio de generaciones en la política brasileña, en el que se reduce el espacio para eternos candidatos.

Traducción: Beatriz Borges

Sobre el autor

Clovis Rossi. 48 años de periodismo, columnista del diario "Folha de S. Paulo" y del portal Folha.com, ya ejerció todas las funciones posibles en el periodismo, de reportero a editor-jefe, ganador de los premios Maria Moors Cabot, de la Universidad Columbia (NY) y de la Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, dirigida por Gabriel García Márquez, los dos por el conjunto de la obra.

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