"Ela explicou o desafio brasileiro a audiências americanas em Washington, Boston e Cambridge: criar condições para que as classes médias novas e emergentes se tornem produtivas em ramos de valor agregado, dependentes de capital humano bem treinado e educado. Conectar os brasileiros às instituições de pesquisa e educação americanas é essencial para o investimento em capital humano".
Comentário da própria Julia: "Expor os brasileiros à cultura americana de inovação e criatividade também é um componente importante da tarefa, como ela disse. E talvez mais difícil. Será que é possível engarrafar essas qualidades que Dilma cita com tamanha admiração? E será que somos os únicos que as temos e podemos exportar?"
Não se preocupe, Julia, os Estados Unidos não são o único centro de excelência que o programa "Ciência sem Fronteiras" pretende explorar. Na visita à Índia, imediatamente antes de viajar a Washington, Dilma também tratara do assunto com autoridades governamentais e universitárias.
A Índia, como se sabe, é um centro importante de TI (Tecnologia da Informação) e é nessa área que o Brasil pretende que seus estudantes/pesquisadores façam seus estágios.Por enquanto, o programa é incipiente: passados nove meses de seu lançamento, apenas 3% das 100 mil bolsas que são a meta foram implementadas. Outras 11% estão em fase de implementação.
E doutorandos e pesquisadores ainda não foram devidamente convocados porque 80% das 10.979 bolsas em fase de implementação são chamadas de graduação-sanduíche (quando o estudante universitário passa um ano ou seis meses fora do país), de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
De todo modo, o programa revela que o Brasil perdeu o medo de encarar o mundo externo, o que é ótimo.
Mas é preciso ter claro que não serão 100 mil ou 200 mil graduandos ou doutores ou pesquisadores que conseguirão mudar o pobre panorama do ensino universitário e da pesquisa no Brasil. O mundo externo é apenas um complemento - útil, excelente - à lição de casa, que precisa ser feita no próprio país.
Mas é saudável que Dilma tenha todo o carinho que vem demonstrando pela inovação e pela agregação de valor ao capital humano brasileiro.